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Fusões e Aquisições (M&A): Por que fazer um acqui-hiring?

Publicado em: 05 Feb 2024

É notório que bons profissionais sustentam bons negócios, mas o processo de recrutá-los nem sempre é fácil: demanda tempo, recursos e alocação de outros profissionais para selecionar, entrevistar, realizar o on-boarding e treinar. Isto sem mencionar a dificuldade em competir, nos processos seletivos, com políticas de bônus, incentivos e altos salários em empresas já consolidadas, sobretudo quando se trata de profissionais do setor de tecnologia e outros segmentos com escassez de mão de obra qualificada.

Em resposta ao cenário acima descrito, pudemos observar o surgimento da categoria de M&A denominada “acqui-hiring”. Diferentemente das operações para compra e venda de ativos e de quotas e ações de capital social, entre outras modalidades às quais estamos habituados, a motivação principal do acqui-hiring e, portanto, os bens valiosos a serem incorporados nestas transações são os profissionais capacitados.

Ou seja, após a realização de uma due diligence focada na relação dos colaboradores com o alvo, busca-se, por meio da aquisição de empresas inteiras, acesso rápido a equipes completas e sintonizadas quanto a métodos e tecnologias de trabalho, devidamente qualificadas e preparadas para exercer em relativo curto espaço de tempo as atividades internas da empresa que os absorverá.

Exemplos notáveis de operações de acqui-hiring podem ser encontradas nas trinta operações de compra de startups de inteligência artificial pela Google no período de 2009 e 2020[1], e as mais recentes aquisições, pela Nubank, em setembro de 2022, da PlataformaTec, e, na sequência, da Cognitect[2].

Os alvos mais procurados nos processos de acqui-hiring são empresas com baixo valuation: seja por enfrentarem dificuldades, não possuírem receitas e/ou ativos relevantes, ou, ainda, se encontrarem em estágios iniciais de desenvolvimento (como startups).

Da perspectiva dos compradores, para além do acesso aos profissionais almejados, têm-se a chance de desenvolver de novos produtos e/ou serviços com as habilidades incorporadas, antecipando a concorrência por custo inferior àquele que seria investido no curso normal de pesquisa e desenvolvimento. Já do ponto de vista dos vendedores, pode significar uma porta de saída vantajosa ao possibilitar a recuperação de parte do investimento realizado na empresa-alvo.

O valor atrelado às operações de acqui-hiring é equivalente à percepção de valor dos profissionais transferidos. Logo, para além do preço pago aos vendedores pela cessão da participação societária, não raro se oferta bônus de retenção aos colaboradores que se pretende manter. Inclusive, como forma de evitar a perda do propósito do acqui-hiring com o desligamento dos profissionais de interesse, a oferta de bônus pode ser comunicada antes mesmo do fechamento da operação.

No entanto, o acqui-hiring não se trata propriamente de uma compra de talentos, considerando que não existem garantias absolutas de continuidade dos profissionais na empresa adquirente, sobretudo quando empresas adquirente e adquirida não possuem nenhuma semelhança em termos de cultura organizacional.

Assim, com vistas a garantir o sucesso de uma operação de acqui-hiring ao longo do tempo, deve-se debruçar sobre a última fase, mas não menos importante, comum a todas as operações de fusão e aquisição (M&A): a integração. Preparar os profissionais já existentes na empresa adquirente para recepcionar os novos times, adaptar modelos de trabalho mais flexíveis, oferecer planos de incentivo a longo prazo e benefícios competitivos podem ser algumas das formas de manutenção destes profissionais, o que, vale ressaltar, não isentam as operações realizadas de riscos.

Por este motivo, apesar de conter motivações atípicas quando comparadas às operações tradicionais de M&A, recomenda-se a realização de todas as etapas, em especial a due diligence, para que haja uma tomada de decisão fundamentada frente ao mapeamento dos riscos decorrentes da operação – afinal, riscos conhecidos são riscos mitigados.

[1] HURST, Aaron. Google revealed to have acquired the most AI startups since 2009. Information age, 2020. Disponível em: https://www.information-age.com/google-revealed-acquired-most-ai-startups-since-2009-15415/. Acesso em: 30 de janeiro de 2024.

[2] O que está por trás do Acqui-Hiring?. MIT Technology Review, 2022. Disponível em: https://mittechreview.com.br/o-que-esta-por-tras-do-acqui-hiring/. Acesso em: 30 de janeiro de 2024.

Por Isabel Cristine de Lima Calvario e Júlia Stalbaum De Liz

Isabel Cristine de Lima Calvario

Isabel Calvario began her professional journey as an intern in the Family Court at the Court of Justice of Paraná. During her academic training, Isabel completed internships in Legal Controllership,...
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